terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Oficina Maker Desenhada

Apresenta-se neste relato a Oficina Maker Desenhada que consiste em oficina especializada de desenho com tecnologias maker e robótica, inovação elaborada e empreendida pelos professores  André Brown e Ruan Schuchanof


A Oficina Maker Desenhada é desenvolvida com metodologia híbrida e inovadora que agrega a cultura maker, a pedagogia de projetos, a aula introdutória de apresentação expositiva/interativa, aulas sequenciais com práticas de pesquisa e elaboração “mão na massa”. A proposta da oficina é “aprender fazendo” coletivamente sob a orientação, mediação dos professores nas elaborações em sala de aula.


Os projetos são feitos em sala de aula com estudantes utilizando materiais e componentes reaproveitados de equipamentos obsoletos,  fora de uso. Em um dos projetos, por exemplo, são feitos discos giratórios de papelão estruturados com CDs, superfícies para desenhar e colorir, postos em movimento por mini motores em circuitos elétricos de baixa voltagem. As linhas em movimento dos discos se misturam, criam novas formas e misturas de cores. 


A primeira experimentação conquistou o interesse dos estudantes que permaneceram em sala de aula voluntariamente mesmo após o término da oficina. 



Novas possibilidades didáticas estão surgindo dessa experiência pedagógica inovadora e sustentável: A Oficina Maker Desenhada realizou com estudantes do Ensino Fundamental, atividades maker com desenhos e robôs. Foram montados com materiais reaproveitados robôs que desenham figuras geométricas e fractais. Mais uma vez o período de aula terminou e a turma não queria ir embora. 


 


Durante a elaboração da oficina considerou-se que as linguagens audiovisuais fazem parte do currículo escolar oficial desde 1996, quando foi incluído na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 9394/96) o ensino das linguagens contemporâneas e das novas tecnologias nas escolas de todo o Brasil. 


No contexto atual da Educação Brasileira, os professores André Brown e Ruan Schuchanof, proponentes da Oficina Maker Desenhada, identificam a pertinência de ampliar a prática regular e usos didáticos das tecnologias na elaboração das linguagens audiovisuais e desenhadas presentes nas culturas contemporâneas, na cibercultura. O objetivo geral da oficina é potencializar as aprendizagens significativas e sensoriais, desenvolver novas habilidades e competências dos estudantes por meio da Educação Maker associada à cultura visual, às novas tecnologias, com possibilidades de criar oportunidades de  interdisciplinaridades e  culminâncias pedagógicas nas Instituições de Ensino.

 

Contatos para realização da Oficina Maker Desenhada na sua Instituição de Ensino:

 

WhatsApp (21) 97611-9006 André Brown e (21) 99602-4168 Ruan Schuchanof



 

 

sábado, 10 de junho de 2023

Malandro é o Gato...


 O personagem "Gato Pardo" surgiu da observação de notícias da imprensa carioca sobre o ressurgimento de espécies da fauna nos resquícios de Mata Atlântica mais próximos dos perímetros urbanos. 



A partir de 2020 as "Onças-Pardas" (Puma, Suçuarana), consideradas em extinção no Estado do Rio de Janeiro, e outras espécies de felinos de menor porte, também de cor parda, reapareceram no Morro da Urca, Guaratiba, Maricá e Ilha Grande. Tive a ideia de representar todas essas espécies de felinos e os mais comuns gatos urbanos em um único personagem, inspirado pelo ditado popular "a noite todos os gatos são pardos". 




Referenciado nessas aparições de felinos da fauna da Mata Atlântica fui compondo o personagem que vem a ser um gato boêmio, artista, oriundo das florestas urbanas e que circula na Lapa (RJ), seu cenário preferido, mesmo quando está vivendo situações adversas equilibrando-se "sobre o fio da navalha".

 



Após os primeiros esboços de desenho do Gato Pardo, desenhei alguns cartuns que postei no perfil de Instagram <@gatopardocartum> a partir de 2021. 




Em seguida fiz experimentações com fotografias como cenários para os movimentos e ações do personagem.




Transitando entre as culturas, as artes e os entretenimentos, o Gato Pardo pretende seguir os fluxos de ideias, desenhos, cartuns, quadrinhos exposições e o que mais vier. 

Referências:

MORAES, Camila. Onça parda é vista no Morro da Babilônia, na Zona Sul do Rio. Disponível em: <https://www.tupi.fm/rio/onca-parda-e-vista-no-morro-da-babilonia-na-zona-sul-do-rio/>. Acesso em: 10 jun 2023.

RJ2. Onça-parda é vista em frente ao Sítio Burle Marx, em Barra da GuaratibaDisponível em: <https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/07/03/onca-parda-e-vista-em-frente-ao-sitio-burle-marx-em-barra-da-guaratiba.ghtml>. Acesso em: 10 jun 2023. 

EBC. Onça-parda é vista em área onde era considerada extinta no RioReserva ambiental fica em Maricá, na região metropolitana. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2022-04/onca-parda-e-vista-em-area-onde-era-considerada-extinta-no-rio>. Acesso em: 10 jun 2023. 

UERJ. Professora do IBRAG faz registro inédito de onça-parda durante disciplina ministrada em Ilha GrandeDisponível em:<http://www.ibrag.uerj.br/index.php/noticias/766-professora-do-ibrag-faz-registro-inedito-de-onca-parda-durante-disciplina-ministrada-em-ilha-grande.html>. Acesso em: 10 jun 2023. 



segunda-feira, 20 de dezembro de 2021




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terça-feira, 23 de março de 2021

A pintura com os meninos da Lapa

 

André Brown

 

Ao longo dos anos, tenho me dedicado à criação de oficinas de desenho. Observo, de perto, a atratividade exercida pelos desenhos, sobre muitas crianças e jovens. No início da década de 1990, costumava participar de um evento que acontecia na Rua da Carioca, em comemoração do aniversário dessa tradicional rua do centro do Rio de Janeiro, onde eram organizadas várias atividades artísticas e culturais promovidas pela SARCA (Sociedade de Amigos da Rua da Carioca e Adjacências).

Uma dessas atividades era o concurso de pintura sobre o Rio Antigo. Dirigiam-se para lá, no domingo, pela manhã, cerca de cem pintores, profissionais ou amadores, que recebiam a tarefa de pintar uma ou mais imagens que representassem o Rio Antigo – poderia ser uma igreja, um prédio histórico, um monumento ou algum detalhe da arquitetura local. Em uma das edições do evento, escolhi como tema os Arcos da Lapa, com a paisagem do bairro de Santa Teresa ao fundo.

Por volta das oito horas da manhã, encontrei um ponto, para montar meu cavalete, no meio da Lapa, e comecei a desenvolver a pintura. Iniciei o esboço, na tela, e percebi que, debaixo de cada arco do antigo aqueduto, havia crianças dormindo, enroladas em cobertores. Um dos meninos do grupo veio em minha direção, pedindo dinheiro para tomar café. Dei o dinheiro e continuei a pintar a tela. Não demorou muito, o menino retornou. Comendo um pedaço de pão, sentou-se ao lado do cavalete. Ainda mastigando, perguntou sobre o que eu estava pintando. Expliquei-lhe que era para o concurso da Rua da Carioca e que estava começando a pintar os Arcos da Lapa. O menino, então, pela primeira vez, sorriu. Perguntou se eu poderia ensiná-lo a pintar. Como tinha levado material de sobra – tintas, pincéis, papéis e algumas telas pequenas, mostrei como ele poderia fazer um desenho e pintá-lo. Ele ficou ali, ao meu lado, divertindo-se com as tintas e as misturas de cores, enquanto eu continuava trabalhando na minha pintura. Gradativamente, os outros meninos foram se aproximando e sentando-se, em forma de semicírculo, em torno do meu cavalete. Ficaram observando, atentamente, a imagem surgir na minha tela, e começaram a sugerir cores para a pintura.



O trabalho ficou pronto bem próximo da hora limite da entrega. Seria feita uma avaliação popular, que apontaria os premiados do concurso, às 15h. Os dez meninos me acompanharam até o Bar Luís, na Rua da Carioca, para o encerramento da atividade. Quando cheguei ao bar, os outros pintores já estavam reunidos, com seus trabalhos. Posicionei minha tela junto às outras pinturas. A votação começou e os meninos da Lapa votaram no meu trabalho. Terminado o concurso, a organização do evento liberou o bar para a comemoração, distribuindo refrigerantes e lanches para a meninada e a premiação dos artistas.

Esse interesse dos meninos me mostrou que é viável desenvolver arte com crianças que vivem nas ruas das cidades. Situações como essa me motivaram a orientar meu trabalho artístico para a Educação e para a criação de oficinas de desenho, pois, naquela ocasião, sem intenção, planejamento ou recursos, fora do espaço da escola, acabei atraindo a atenção dos meninos para a pintura, pelo simples fato de estar ali pintando diante deles.


segunda-feira, 22 de março de 2021

Visita ao mestre caricaturista Mendez

 

André Brown

O interesse pelo desenho e pela caricatura começou cedo para mim. Sempre fui fascinado pelas caricaturas que via nos jornais. Mesmo quando não lia as matérias, ficava olhando para aquelas caras engraçadas e distorcidas e tentava reproduzi-las, acreditando que os caricaturistas as tinham executado diretamente nas páginas do jornal. Como os meus desenhos, na maioria das vezes, não saíam bons, ficava a frustração e o desconhecimento das técnicas necessárias para fazer boas caricaturas.

Até que, um dia, meus pais me deram de presente um pequeno livro intitulado “Como fazer caricaturas” do caricaturista Mendez publicado pela editora Ediouro. Através de seu livro, Mendez foi meu primeiro mestre na arte da caricatura. O livro trazia vários exercícios de construção da figura humana, sempre de uma forma bem humorada, com um traço firme e preciso. Aquele livro foi a referência que precisava para começar a fazer caricaturas de meus colegas e professores.

Lembro-me de um rígido professor de matemática da escola técnica, que tomava de mim as caricaturas que fazia dele durante a aula e me chamava a atenção cada vez que isso acontecia, mas guardava os meus desenhos na pasta dele. Uma vez, depois da aula, o flagrei num corredor da escola vendo e rindo de uma das caricaturas que eu tinha feito dele.

Anos mais tarde, tive a oportunidade de conhecer pessoalmente o mestre caricaturista Mendez, em uma visita à sua casa na tarde de 12 de janeiro de 1996, levado pelo caricaturista Zé Roberto Graúna. A casa do artista era repleta de desenhos, caricaturas, pinturas e esculturas. Pude, também, ouvir as histórias contadas pelo Mendez e sua esposa Dona Emilia sobre trabalhos, viagens e a relação dele com outros artistas como o Portinari, de quem foi assistente de pintura durante a obra artística decorativa do Palácio Gustavo Capanema, antiga sede do MEC na cidade do Rio de Janeiro, quando ainda era capital da República. O Mendez disse, nessa conversa, que o Portinari era bastante crítico e sempre que necessário o lembrava de que aquele trabalho era de pintura e não de caricatura.

Na ocasião da minha visita, Mendez já estava idoso e não desenhava mais. Falei para ele da importância do seu trabalho para me estimular a desenhar caricaturas desde criança e que, na minha vida de professor, eu utilizava o seu livro com os meus alunos das minhas oficinas de desenho. Mendez percebeu que eu tinha um exemplar do seu livro em mão, “Caricaturas e caricaturados”, também da Editora Ediouro. Com muito esforço, ele, então, levantou-se de sua poltrona pegou meu livro e dirigindo-se até a mesa espontaneamente autografou para mim na página inicial. Com dificuldade, conseguiu escrever uma curta dedicatória, “Ao André com amizade do Mendez”, para mim bastante significativa, pois, segundo a esposa dele, Dona Emília, o Mendez não tentava escrever ou desenhar há algum tempo por não se conformar com o tremor nas mãos. Acredito que tenha sido o último autógrafo do Mendez, que faleceu aos 88 anos, em outubro de 1996.



segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Oficina de histórias em quadrinhos contra o bullying



André Brown[1]

Estive, nos meses de junho e julho de 2013, realizando oficinas de histórias em quadrinhos (HQ) com turmas do ensino fundamental do Instituto de Educação Fernando Rodrigues da Silveira CAp/ UERJ, junto à minha ex-aluna do curso de pedagogia (Edu/ Uerj), Érica[2], também estagiária de pedagogia nesta instituição de ensino e pesquisa. Na ocasião, desenvolvemos histórias em quadrinhos com os alunos sobre a temática “Solidariedade x bullying. A pesquisa Bullying no CAp: reconhecer para combater”[3], desenvolvida na instituição, desdobra-se em ões preventivas contra o bullying na escola. 




Quando fui convidado a  elaborar a oficina de HQ  abordando a temática do bullying com os alunos do ano do ensino fundamental, estava em contato com outras escolas, pesquisando os usos dos quadrinhos realizados por outros professores. Considerei oportuno, para minha pesquisa, fazer as oficinas, pois essas atividades poderiam possibilitar mais algumas percepções de aprendizagensino por meio das HQ. Fui informado sobre alguns detalhes do projeto, pré-existente às minhas idas à escola, em conversas e no texto de trabalho acadêmico quando Érica me passou os objetivos do projeto:


O projeto Bullying no CAp: reconhecer para combater” existe desde 2010 e marca uma compreensão que passou a informar a ação da coordenação pedagógica da unidade de que: (a) toda escola de ensino fundamental e médio precisa reconhecer o que são práticas de bullying ; (b) bullying no seu interior e, com isso, faz-se necessário dar um tratamento a essas práticas que impliquem em duas direções: (b.1) lidar com todos os envolvidos em cada caso expondo os seus problemas intrínsecos e desnaturalizando-os –, e (b.2) desenvolver ações de prevenção a atos de bullying, trazendo toda a comunidade para refletir sobre a questão e se engajar no projeto de mudar essa realidade. Desde então, diferentes atividades vêm sendo desenvolvidas no interior do projeto.


Durante a preparação para realizar a oficina de HQ junto aos alunos e professores daquela instituição, tomei conhecimento do projeto e imaginei como as criações de HQ poderiam proporcionar momentos de discussão e reflexão sobre o bullying. Precisei ler sobre o assunto, busquei pesquisas de alguns autores sobre o tema e as práticas de desconstrução do bullying. Segundo Lopes Neto (200 5, p. S154),

bullying compreende todas as atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder. Essa assimetria de poder associada ao bullying pode ser consequente da diferença de idade, tamanho, desenvolvimento físico ou emocional, ou do maior apoio dos demais estudantes.


No decorrer de outras leituras que fui buscar, tive contato com manuais de combate ao bullying. Um desses manuais ensina a identificar e classificar os tipos de bullying, perfis de agressores bullies e vítimas ou alvos, testemunhas, e prescreve um programa contínuo antibullying na escola com algumas ações indicadas como psicoeducação, palestras na escola, para pais, professores e alunos, ensino de moral e ética, elaboração de constituição escolar antibullying e alguns mecanismos de controle. 


No entanto, observei que sistemas de punição não são tão eficientes como algumas vezes é relatado em programas antibullying. Tenho percebido, nos meus contatos com estudantes das diversas escolas na minha vida de professor e durante minha pesquisa, as preocupações de pais e professores com casos diversos e recorrentes de bullying

Simultaneamente, durante a elaboração da oficina, estava lendo textos sobre solidariedade na educação, nos aspectos de pesquisa nos/ dos/ com os cotidianos das escolas (ALVES, 2001) e também em obras específicas sobre educação solidária. Na minha experiência de professor, tenho identificado que, na maior parte das vezes, falta o diálogo, o respeito mútuo, o afeto, a solidariedade e as conversas com as crianças e jovens que praticam e sofrem o bullying. Alguns estudos apontam para as vítimas dos casos de bullying com um comportamento mais inibido, como explica Lopes Neto (200 5, p. S170), os alvos de bullying

em geral, não dispõe de recursos, status ou habilidade para reagir ou cessar o bullying. Geralmente, é pouco sociável, inseguro e desesperançado quanto à possibilidade de adequação ao grupo. Sua baixa autoestima é agravada por críticas dos adultos sobre a sua vida ou comportamento, dificultando a possibilidade de ajuda. Tem poucos amigos, é passivo, retraído, infeliz e sofre com a vergonha, medo, depressão e ansiedade. Sua autoestima pode estar tão comprometida que acredita ser merecedor dos maus-tratos sofridos.


Pensei que a oficina de HQ poderia começar com algumas conversas sobre bullying e solidariedade como contraponto, mas com muito cuidado para a atividade não virar uma inculcação, uma oficina de HQ com discurso moralizante. Queria tentar um processo dialógico a partir das próprias reflexões deles, funcionar apenas como um facilitador das discussões e das elaborações dos quadrinhos, mesmo que a oficina fosse resultado de uma “encomenda” prévia para trabalhar os quadrinhos com a temática do bullying, muito oportuna para minha pesquisa em andamento, não tinha o interesse de impor aos alunos e professores envolvidos na atividade minha visão sobre o assunto. A limitação de tempo com cada turma me preocupava, tanto para o desenvolvimento da atividade quanto para realizar os registros de pesquisa das práticas com as HQ na sala de aula. Havia o risco de a minha ação ser diretiva demais, conduzindo a atenção e o trabalho dos alunos para o meu interesse de pesquisa. Precisava, então, controlar minha ansiedade, deixar o processo fluir por eles mesmos além da minha apresentação inicial para os alunos da proposta de trabalho com quadrinhos, que poderia ser aceita ou não.

No dia marcado para as oficinas, logo que entrei em sala de aula fui apresentado à turma. Escrevi, no quadro branco, a palavra bullying e pedi para que eles me falassem o significado da palavra, o que fizeram com facilidade, trazendo, em suas falas, as diversas formas de bullying que já tinham estudado, como o cyberbullying e suas variações. O mesmo fiz com a palavra “solidariedade”, e eles disseram o que entendiam sobre o assunto já estudado na escola. Um aluno descreveu solidariedade como “maneiras de ajudar outras pessoas”, citando desabrigados das chuvas, seca do nordeste, campanhas solidárias decorrentes de situações trágicas. A professora problematizou e perguntou se, só nessas situações limites, podemos ser solidários. Alguns alunos falaram de solidariedade no dia a dia, nas relações interpessoais, nos trabalhos colaborativos, ideias que tinham conversado em outras aulas.

Com essas ideias no ar e sem apontar para alguma conclusão da conversa, pedi que fizessem os quadrinhos, mostrei usos básicos da linguagem, balões, personagens, roteiro, desenho e sequência de imagens. Organizaram-se em grupos de quatro alunos e começaram a elaboração das HQ.

A estagiária Érica esteve trabalhando junto comigo o tempo todo durante a oficina, fazendo registros de imagem, anotações que, posteriormente, serviram de referencial para elaboração de texto acadêmico apresentado na 13ª Semana de Graduação da Universidade do Rio de Janeiro, 2013. Parte desse texto conta um pouco do que fizemos na oficina:

De acordo com a prática realizada na oficina “Histórias em quadrinhos contra o bullying”, que provoca os(as) alunos(as) a contação, interpretação e elaboração de histórias em quadrinhos relacionadas ao tema, motivamos os estudantes a refletirem e debaterem sobre o que é o bullying, como ocorre e como agir durante a situação. Com isso, foram ensinadas técnicas de desenho como forma de expressão para expor e problematizar o tema; e, além disso, intervir diretamente nas atitudes dos alunos(as) diante de uma situação de bullying, foi o objetivo central da atividade.

No evento, foi apresentado o pôster:

Todos os trabalhos elaborados foram realizados sob as mesmas condições de produção para todos os alunos da mesma turma, durante a oficina de quadrinhos em sala de aula. O tempo de elaboração e apresentação foi relativo a dois tempos de aula totalizando uma hora e quarenta minutos. Os materiais utilizados foram aqueles disponíveis em sala de aula: lápis 2B, giz de cera e lápis de cor sobre papel sulfite branco formato A4. Cada grupo de alunos escolheu sua maneira de fazer os quadrinhos, alguns partiram direto para os desenhos das páginas, outros preferiram escrever as histórias e depois desenhar. Nem todos quiseram fazer os quadrinhos completos, alguns deixaram a HQ sem conclusão e uma aluna preferiu fazer apenas a expressão de um agressor bullie. Os trabalhos foram realizados em grupos pequenos de até quatro alunos. Cada grupo estabeleceu a sua própria dinâmica de trabalho, mas percebi que, em cada grupo, um aluno(a) ficou responsável pelo desenho. A criação das narrativas, argumentos, passaram por conversas e organizações diferentes do trabalho coletivo.


Com os roteiros e as HQ prontos, os próprios alunos pediram para apresentar os seus trabalhos com seus grupos na frente do quadro branco, prenderam suas HQ no quadro e, para minha surpresa, fizeram contações das histórias e a dramatização dos personagens das HQ que produziram, atividade não sugerida por mim nem pelas professoras. As apresentações foram registradas pela escola em fotos e pequenos vídeos, aos quais não tive acesso e não pude usar nesse trabalho em função da preservação das imagens de alunos e professores. O trabalho fluiu bem, principalmente pela adesão e pela participação efetiva dos professores e dos alunos do CAp para a realização da atividade.

Revendo as HQ elaboradas pelos alunos e pensando nessa pesquisa sobre as práticas de aprendizagensino com as histórias em quadrinhos, consegui perceber que, além da riqueza dos processos de imaginação e elaboração ocorridos durante a atividade, os trabalhos concluídos registram pistas, indícios que servem para análises posteriores. Os usos da linguagem dos quadrinhos e seus elementos na educação vieram à tona nessa atividade, também, a partir da percepção e da memória dos estudantes de outras HQs e personagens desenhados. Percebi, também, que, sobre o tema trabalhado, no caso da atividade com essa turma o bullying, por meio das HQ, foi possível compreender, nas narrativas quadrinizadas, como acontecem algumas situações de bullying, suas lógicas, práticas e trajetórias, nem sempre percebidas por professores e pais no cotidiano. As histórias em quadrinhos apontam, também, como os estudantes e professores lidam com o problema. 

Nossa oficina de histórias em quadrinhos contra o bullying poderá ser realizada sempre que necessário e certamente será útil para a identificação e compreensão das situações de bullying em escolas e outras instituições.


*Esse texto é um resumo de parte da tese de doutorado do autor intitulada "Os usos das histórias em quadrinhos: processos de aprendizagensino nas escolas e em outros espaços educativos" indicada nas referências abaixo, capítulo 7 "OFICINA DE HQ NAS REFLEXÕES SOBRE O BULLYING".




Referências:

ALVES, Nilda. Decifrando o pergaminho: o cotidiano das escolas nas lógicas das redes cotidianas. In: OLIVEIRA, Inês Barbosa de; ALVES, Nilda (orgs.). Pesquisa no/ do cotidiano das escolas: sobre redes de saberes. Rio de Janeiro: DP& A, 2001.
BROWN, André (2014). Os usos das histórias em quadrinhos: processos de aprendizagensino nas escolas e em outros espaços educativos. 2014. 316 f. Tese (Doutorado em Educação)-ProPEd-Uerj, Faculdade de Educação da Uerj, Rio de Janeiro, 2014. Disponível em: < http://www.proped.pro.br/teses/teses_pdf/2004_1-46-DO.pdf > Acesso em: 17 maio 2015.

FREIRE, Paulo; FREIRE, Nita; OLIVEIRA, Walter Ferreira de. Pedagogia da solidariedade. Indaiatuba, SP: Villa das Letras, 2009.
LOPES NETO, Aramis A. Bullying: comportamento agressivo entre estudantes. Jornal de Pediatria, Rio de Janeiro, v. 81, n. 5, 200 5. Disponível emhttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0021-75572005000700006&script=sci_abstract&tlng=pt >. Acesso em: 5 dez. 2013.




[1] André Damasceno Brown Duarte – Doutor em Educação (ProPEd/Uerj-2014), Desenhista. brownideia@gmail.com
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7115745103613206

[2] Graduanda em Pedagogia pela Faculdade de Educação da Uerj; bolsista do CAp-Uerj na pesquisa “Enfrentando o Bullying na Escola”, orientada pela Profa. Dra. Cláudia Hernandez Barreiros Sonco.

[3] O projeto faz parte da Linha de Pesquisa Educação e Diferença, do CAp-Uerj, da Profa. Dra. Cláudia Hernandez Barreiros Sonco, e tem como objetivos gerais: “Conhecer e analisar criticamente a instituição escolar como um espaço de convivência entre diferentes. Reconhecer e compreender as implicações dessa convivência. Analisar os conflitos e também os alinhamentos que ocorrem em seu interior em processos de inclusão, exclusão, afeto, violência, tolerância, preconceito”.