André Brown
O interesse pelo desenho e pela
caricatura começou cedo para mim. Sempre fui fascinado pelas caricaturas que
via nos jornais. Mesmo quando não lia as matérias, ficava olhando para aquelas
caras engraçadas e distorcidas e tentava reproduzi-las, acreditando que os
caricaturistas as tinham executado diretamente nas páginas do jornal. Como os meus
desenhos, na maioria das vezes, não saíam bons, ficava a frustração e o
desconhecimento das técnicas necessárias para fazer boas caricaturas.
Até que, um dia, meus pais me deram
de presente um pequeno livro intitulado “Como fazer caricaturas” do
caricaturista Mendez publicado pela editora Ediouro. Através de seu livro,
Mendez foi meu primeiro mestre na arte da caricatura. O livro trazia vários
exercícios de construção da figura humana, sempre de uma forma bem humorada,
com um traço firme e preciso. Aquele livro foi a referência que precisava
para começar a fazer caricaturas de meus colegas e professores.
Lembro-me de um rígido professor de
matemática da escola técnica, que tomava de mim as caricaturas que fazia dele
durante a aula e me chamava a atenção cada vez que isso acontecia, mas guardava
os meus desenhos na pasta dele. Uma vez, depois da aula, o flagrei num corredor
da escola vendo e rindo de uma das caricaturas que eu tinha feito dele.
Anos mais tarde, tive a oportunidade
de conhecer pessoalmente o mestre caricaturista Mendez, em uma visita à sua
casa na tarde de 12 de janeiro de 1996, levado pelo caricaturista Zé Roberto
Graúna. A casa do artista era repleta de desenhos, caricaturas, pinturas e
esculturas. Pude, também, ouvir as histórias contadas pelo Mendez e sua esposa
Dona Emilia sobre trabalhos, viagens e a relação dele com outros artistas como
o Portinari, de quem foi assistente de pintura durante a obra artística
decorativa do Palácio Gustavo Capanema, antiga sede do MEC na cidade do Rio de
Janeiro, quando ainda era capital da República. O Mendez disse, nessa conversa,
que o Portinari era bastante crítico e sempre que necessário o lembrava de que
aquele trabalho era de pintura e não de caricatura.
Na ocasião da minha visita, Mendez já
estava idoso e não desenhava mais. Falei para ele da importância do seu
trabalho para me estimular a desenhar caricaturas desde criança e que, na minha
vida de professor, eu utilizava o seu livro com os meus alunos das minhas
oficinas de desenho. Mendez percebeu que eu tinha um exemplar do seu livro em
mão, “Caricaturas e caricaturados”, também da Editora Ediouro. Com muito
esforço, ele, então, levantou-se de sua poltrona pegou meu livro e dirigindo-se
até a mesa espontaneamente autografou para mim na página inicial. Com
dificuldade, conseguiu escrever uma curta dedicatória, “Ao André com amizade do
Mendez”, para mim bastante significativa, pois, segundo a esposa dele, Dona
Emília, o Mendez não tentava escrever ou desenhar há algum tempo por não se
conformar com o tremor nas mãos. Acredito que tenha sido o último autógrafo do
Mendez, que faleceu aos 88 anos, em outubro de 1996.
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