domingo, 2 de junho de 2019

Oficina de Desenho: Experiências de liberdade criativa e aprendizagem


André Brown

“A arte mais importante do professor é saber despertar nos alunos a alegria de criar e conhecer.”
Albert Einstein

Desde o início da década de 1990, atuo como desenhista, produtor de linguagens e “oficineiro”. No meu caso, o interesse pela linguagem do desenho antecedeu a minha formação em pedagogia. Hoje, faço uso das linguagens desenhadas no meu trabalho seja em sala de aula ou na pesquisa em educação. Muito dessa minha vontade de trabalhar com desenho e educação se expressou em experiências cotidianas, na minha própria Oficina de Desenho.


Oficina de Desenho na Casa de Leitura de Laranjeiras / Fundação Biblioteca Nacional em 1998.

Quando criei a Oficina de Desenho em parceria com a designer Alessandra Nogueira (ESDI/Uerj), eu já havia ministrado cursos livres em instituições como a Casa de Leitura de Laranjeiras (Fundação Biblioteca Nacional) e em centros culturais. O projeto inicial da oficina foi pensado para ser realizado em escolas, mas depois estruturei um espaço próprio para iniciar o trabalho.  A partir de 2009 a Oficina de Desenho passou a integrar o Instituto Tocando em Você (ITV), uma parceria que deu certo e ampliou a abrangência da Oficina.

No ensino de desenho eu e Alessandra buscamos fundamentação nas obras de mestres que partiram da prática para elaborar seus trabalhos e pesquisas, como Fayga Ostrower, Betty Edwards, Rui de Oliveira,  Burn Hogart, Will Eisner, Scott McCloud entre muitos outros. Recentemente a Oficina de Desenho agrega em suas aulas, conhecimentos, estudos visuais e da cultura visual desenvolvidos pelas universidades públicas UFSM, UFRJ,  Uerj.

Desde o início da Oficina de Desenho foram realizadas as práticas de ensino fundamentadas pelas teorias dos pensadores da Educação, entre eles destaco Dewey, Vigostski, Rogers, Freinet e Freire.

Um exemplo de identificação de elementos das pedagogias na Oficina de Desenho é a aula-passeio indicada por Celéstin Freinet como prática de ensino. Com os alunos, visitamos e realizamos aulas de desenho ao ar livre na Floresta da Tijuca, no Jardim Botânico, no Passeio Público, na Praça da República, na Quinta da Boa Vista e no Jardim Zoológico.


Prática de desenho na Floresta da Tijuca  em 16/04/2000

A ideia de palavras geradoras, pensada e posta em prática por Paulo Freire para a alfabetização, usando palavras do cotidiano dos alunos, me inspirou a utilizar o que defino, por analogia, como imagens geradoras. Incluo nessas imagens fotos, pinturas, esculturas, ilustrações ou qualquer outra referência visual que sirva de estímulo à criação de novos desenhos em sala de aula.

Alunos com idades e níveis de desenvolvimento diferentes interagem durante as aulas da oficina, trocando conhecimentos enquanto realizam seus desenhos, tal qual escreveu Vigotski (1998) sobre a zona de desenvolvimento proximal, explicando-a como

a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes (p. 112).
a zona de desenvolvimento proximal hoje, será o nível de desenvolvimento real amanhã – ou seja, aquilo que uma criança pode fazer com assistência hoje, ela será capaz de fazer sozinha amanhã (p. 113).

Reconheço a importância de todas essas teorias terem perpassado o cotidiano da Oficina de Desenho. Com o conhecimento das metodologias de ensino e aprendizagem foi possível que alunos conquistassem a autonomia necessária para conseguirem autogerir suas elaborações, buscando seus próprios temas e técnicas com liberdade. Nessas ocasiões eu tenho sido um professor facilitador (Rogers, 1972), que acompanha as elaborações gráficas dos alunos, que algumas vezes usam o acervo de livros de arte, revistas e recursos no ateliê. Nesses processos de elaboração, as histórias em quadrinhos servem com frequência como referencial para praticar desenho e usos de elementos de linguagem, associando textos e imagens para compor narrativas.

Há 21 anos a Oficina de Desenho realiza metodologias alternativas (BROWN; CHRISPINO, 2017) exposições de alunos, professores, artistas convidados, desenvolveu projetos coletivos de criação de personagens, incentivou a publicação de jornais alternativos, fanzines, revistas, livros, quadrinhos independentes, produções imagéticas para mídias convencionais e digitais.


Impressora 3D tecnologia utilizada na Cultura Maker.

Recentemente a Oficina de Desenho está compondo novas parcerias com startups de tecnologia e inovação para realizar oficinas relacionadas à cultura maker. Brevemente serão divulgadas novas atividades da Oficina de Desenho para atender escolas e outras instituições de ensino, cultura, entretenimento e empresas.



Referências:

BROWN, André; CHRISPINO, Arthur. Cursos de férias: metodologias alternativas na formação continuada. Conhecimento & Diversidade, [S.l.], v. 9, n. 17, p. 112 - 126, out. 2017. Disponível em: <https://revistas.unilasalle.edu.br/index.php/conhecimento_diversidade/article/view/3799>. Acesso em: 02 jun. 2019.

ANDRADE, Karen. Guia definitivo da Educação 4.0 – Uma rede de conexões integrando pessoas e saberes. Planeta Educação. Disponível em: < https://www.google.com/search?q=guia+definitivo+da+educa%C3%A7%C3%A3o+4.0&oq=guia+definitivo+da+educa%C3%A7%C3%A3o+4.0&aqs=chrome..69i57.14127j0j1&sourceid=chrome&ie=UTF-8# >. Acesso em: 02 jun. 2019.

FREINET, Celéstin. A educação do trabalho. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

ROGERS, Carl R. Liberdade para aprender. 2 ed. Belo Horizonte, MG: Interlivros de Minas Gerais, 1972.

VIGOTSKI, Lev Semenovich. A formação social da mente – o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.