quinta-feira, 8 de agosto de 2019

O cartum brasileiro resiste


André Brown

Mesmo que tenham atualmente espaço reduzido na imprensa convencional os cartuns continuam presentes na crítica política, social e de costumes. Cabe aqui definir o que é cartum:

o cartum é uma anedota gráfica; seu objetivo é provocar o riso do espectador. E como uma das manifestações da caricatura, ele chega ao riso através da crítica mordaz, satírica, irônica e principalmente humorística, do comportamento do ser humano, das suas fraquezas de seus hábitos e costumes. (...) O termo cartum origina-se do ing. cartoon, cartão, pequeno projeto em escala, desenhado em cartão para ser reproduzido depois em mural ou tapeçaria. A expressão, com o sentido que tem hoje, nasceu em 1841 nas páginas da revista inglesa Punch, a mais antiga revista de humor do mundo. (...) No Brasil, foi a revista Pererê de Ziraldo, edição de fevereiro de 1964, que lançou o neologismo cartum (BARBOSA; RABAÇA, 2001, p. 112-113).

O ano de 2019 marca o cinquentenário da fundação do jornal de humor “O Pasquim”, publicação icônica da imprensa alternativa brasileira que publicava caricaturas, charges, cartuns e que se tornou uma trincheira na luta pela democracia. “O Pasquim” fez parte do ciclo da imprensa alternativa contra a ditadura, resistência cultural que iniciou com a revista “Pif-Paf” publicada por Millôr Fernandes em 1964. Fundado em 1969 “O Pasquim”, durante 22 anos de publicação, reuniu vários cartunistas brasileiros.

Ao longo do tempo, a linguagem do cartum conquistou o teatro, os programas de Tv, o cinema, os desenhos animados, a literatura para crianças e jovens, os games, a publicidade e o mercado de entretenimento.

Atualmente, com a existência das mídias digitais e da conectividade ubíqua, os cartuns e suas personagens são utilizados com frequência em redes sociais, e-books e blogs.

No dia 5 de janeiro foi lançado o jornal de cartuns “+Humor” por cartunistas editores, alguns deles remanescentes de “O Pasquim” e de outros jornais e revistas de circulação nacional.



Os cartunistas idealizadores do jornal “+Humor” optaram por fazer jornal impresso de cartuns em formato tabloide para distribuição gratuita. Fazer circular os cartuns em um “jornal de papel” parece uma escolha inusitada em tempos de mídias digitais, porém a materialidade do impresso permite ressignificar os usos do jornal ao ser manuseado para leitura e práticas de desenho em atividades pedagógicas, workshops, exposições, e eventos culturais.

As linguagens desenhadas como a do cartum geralmente têm seus elementos utilizados em diversas elaborações culturais em diferentes mídias. Basta que os produtores de linguagem, os cartunistas, os editores tenham alguma nova motivação ou perspectiva de utilização e ainda será possível encontrar maneiras inovadoras de fazer uso dos cartuns, de seus elementos visuais e narrativos.




Referências:

BARBOSA, Gustavo; RABAÇA, Carlos Alberto. Dicionário de comunicação. 2.ed. Rio de Janeiro: Campus, 2001.

PIF-PAF DE MILLÔR RENOVA O HUMOR E A CRÍTICA.
Disponível em: <http://memorialdademocracia.com.br/card/pif-paf-de-millor-renova-o-humor-e-a-critica?fbclid=IwAR05B6YVJxzjgoxB9L87R9l0n9gSDjXV8y9kaUSl0LFOhWDoDxYX3V1Mtus>. Acesso em 08 ago. 2019.

VIDIGAL, Enize. Nasce o jornal +Humor, o único impresso de charges do país. Disponível em: <https://www.oliberal.com/cultura/nasce-o-jornal-humor-o-%C3%BAnico-impresso-de-charges-do-pa%C3%ADs-1.57375>. Acesso em: 08 ago. 2019.